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Pausa.

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De vez em quando o peito aperta, como se fosse um mau pressentimento ou algo do tipo.

Na noite de 11/01/2011 não foi diferente. Resolvi telefonar. Liguei uma, duas, três vezes. Caixa postal.

Na quarta tentativa, não foi ele quem atendeu. Me foi dito que ele estava em uma situação delicada, impossibilitado de falar ao telefone. Veio uma pontada em meu peito, a certeza de que algo estaria acontecendo.

Hora e meia depois atendi meu telefone. Desta vez era ele quem ligava, dizendo que já estava bem. O problema havia sido um defeito na fechadura do banheiro, que o deixou alguns (muitos) minutos trancado por dentro. Culminou com a desmantelação das dobradiças, para que a porta se abrisse, com direito a ferramentas pela janela e tudo mais.

O pior havia passado, pensei. Mais calma, dormi.

No dia seguinte, em meio aos afazeres profissionais, fico sabendo por e-mail que Teresópolis, Nova Friburgo e Itaipava (Petrópolis) estavam caóticas por causa das chuvas…

O resto virou história: http://olhaosemblante.blogspot.com/2011/01/voltemos.html.

Ana Letícia.

Ps. 1: Foto tirada em abril/2010. Assim era o rio em Itaipava que destruiu o Vale do Cuiabá na enchente do dia 12/01/2011.

Ps. 2: Para ajudar as vítimas da enxurrada que varreu a Serra Fluminense, acessem o G1.

Res

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É como às vezes me sinto: coisa.
No princípio dos tempos, res familiaris. Criada no seio de uma família diferente, mas bem legal. Única filha mulher, a primogênita, primeira neta de meus avós paternos. Uma verdadeira res singularis.
Meus irmãos nasceram, meus pais acreditavam que “res inter alios acta, allis nec prodest nec nocet” – os atos dos contraentes não aproveitam, nem prejudicam terceiros, no caso, eu. Em casa, sempre tive minhas coisas separadas de meus irmãos, claro, por ser menina. Coisas de mulher, res uxoriae.

Na adolescência, ninguém me suportava lá em casa… A bem da verdade é que nem eu mesma me agüentava. Res inconsumptibilis, coisa inconsumível, intragável, inaceitável. Brigas constantes com qualquer coisa viva que me aparecesse pela frente. Cheguei a ser tida como um caso perdido, res amissa.
Virei mocinha e comecei a namorar. Virei res privatae, comprometida seriamente durante mais de 02 anos, muito nova ainda. Essas coisas de primeiro namorado, que você pensa que conheceu o homem da sua vida, e que vai ser pra sempre, estilo Romeu e Julieta, amores shakespearianos, enfrentando tudo e todos que se opõem – ou que, pelo menos, tentam mostrar a realidade.
Até que a realidade se escancarou para mim depois que entrei na universidade. Res universitatis. Julieta terminou com o Romeu e partiu para o abraço! Aproveitei mesmo, quer coisa melhor na vida que beijar na boca e ser feliz?
Mas… uma vez res in commercium, acabei conhecendo outro res in commercium, claro. E quem disse que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço? Res extra commercium me tornei, é claro. Relacionamento longo é isso aí, a gente passa a viver a vida do outro, a gente vira res incorporea, desincorporando de nosso próprio ser e passando a ser o outro. Até que cometemos erros, nos deparamos com incompatibilidades mil, e tudo um dia acaba nesta vida, até a própria, é o que dizem, não é? (E será que tem que ser mesmo assim?)
Sentenciei-me a tornar a ser res nullius, coisa de ninguém. Viva o passado, o que passou, passou, transitou em julgado: res judicata.
A vida é um ciclo: novamente res in commercium. E res singularis que sou, e também, é claro, res familiaris, sempre chamei a atenção. Tornei-me res furtiva, objeto de desejo de muita gente. Modesta, eu? Já disse que sou res singularis, é melhor ir se acostumando com este meu jeito res amissa de ser.
Falei que a vida é um ciclo? Pois é, estou ficando repetitiva. Mas não é que me deparei com outro res? Aí pronto. Publicae? Privatae? In commercium? Res aliena – coisa alheia – ou res nullius – coisa de ninguém? Surpreendente, inesperado. Um verdadeiro res humani júris, se auto-denominando res derelictae, coisa abandonada, maltratada, sofrida, dificultosa. Bradando por sua condição de res immobilis, soli, seguro na terra, paralisado, imóvel e imutável – ainda que não admita ou nem perceba tal clamor. Seria isso em virtude de sua vida atual ou de sua própria natureza?
Não sei… Não quero me tornar res inconsumptibilis novamente.
Melhor não misturar res publicae com res privatae.
Já disse muito, paro por aqui.
We're just two lost souls
“We’re just two lost souls / swimming in a fish bowl / year after year…”
(Wish you were here – Pink Floyd)

Texto e foto por: Ana.

Arrebatador

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Vou parar de fingir que não estou nem aí. Vou parar de fazer ironias e de dizer coisas sem sentido e de nunca falar nada que eu quero de verdade. Vou parar de fingir que estou tranquila no meu canto e que não penso em você a todo instante.

Vou parar de fingir que não quero falar contigo todos os dias, e parar de fazer o tipo “ocupada todo o tempo”. Vou admitir que fico te esperando dar um sinal de vida todos os dias, pr’eu tomar mais uma pílula que seja de sua atenção.

Não vou mais fingir que não me decepciono quando você não me liga, e que toda a minha agressividade, ironia e sarcasmo não são em decorrência da sua falta de atitude. Não que você não faça nada, claro que reconheço seus esforços, e acho lindas as coisinhas que você faz, por mais minúsculas que sejam; mas acho que fiz e tenho feito muito, talvez até demais, para te mostrar o que sinto e o que quero.

Não falarei mais com você sobre coisas corriqueiras, sobre como foi o meu dia, nem te perguntarei como foi o seu. Admitirei que já fiz planos, que já sonhei e já pensei e já programei um monte de coisas pra nós dois.

Não vou mais fingir que não me apaixonei por você. Eu sei e você sabe que coincidências assim, como as nossas, não acontecem sem um propósito, muito menos, são coisas corriqueiras, que poderiam acontecer com qualquer um. Vou parar de fingir que eu não lembro o tempo todo do seu toque, das suas palavras, e me recuso a achar que foi tudo uma viagem da minha cabeça, que errei feio, e que posso quebrar a cara, mais uma vez.

Eu quero que você fale com todas as letras, e não mais nas entrelinhas. Eu quero parar de tentar decifrar seus escritos, suas palavras faladas e suas reações. Eu quero simplesmente ouvir da sua boca que você me quer e nada mais, que quer me ver de novo, e que podemos ser felizes juntos, ou que, pelo menos, quer tentar.

Vou te falar uma coisa: eu não quero que esta seja só mais uma historinha de amor, dessas que a gente conta pros amigos, pros filhos e netos, um caso, apenas uma aventura, e que morre por aí.

Vou parar de enrolar e te dizer de uma só vez: eu quero que seja arrebatador.

Ana *

(Texto por: Ana Letícia *. Foto by LaMariposa.)

* Inspirado na maravilhosa prosa poética de Brena Brás.