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O mineiro e o filme

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Era uma vez, um mineiro com sua esposa e sua filha na 15ª Mostra de Cinema de Tiradentes.

Chegaram cansados da viagem que durou 3h30min, da capital até a pequena cidade onde acontecia o festival. Após alguns passeios andando pelas vielas de chão de pé-de-moleque, resolvem entrar na tenda principal, onde um longa metragem era exibido.

O filme já tinha começado há alguns minutos, mas o segurança não deixava viv’alma entrar na sala de cinema. Estranho! – falou o mineiro – em qualquer outro cinema do mundo a gente pode entrar na sala depois que o filme começou!, insistia com o segurança.

O moço, um tanto truculento, retrucou que cumpria ordens, que o mineiro havia chegado atrasado, não podia liberar a entrada.

O mineiro ficou furioso! Saiu para dar uma volta pela tenda para esfriar a cabeça com a esposa e a filha. Até que, não mais que de repente, apertou o passo e entrou escondido pela porta de saída do cinema. A filha e a esposa pararam estupefatas, observando a cena.

Então surge o segurança, que corre atrás do mineiro, que já tinha entrado por trás do pano preto. As outras pessoas que observavam do lado de fora se surpreendem com a cena pitoresca, algumas riem da atitude do mineiro, outras aplaudem, todas comentando entre si. Muitos também estavam indignadas com a proibição sem razão de ser e com a má educação do segurança. (Provavelmente, invejavam a atitude do senhor mineiro quebrando as regras, o único com iniciativa!)

Segundos depois, reaparecem do meio da cortina preta, lado a lado. Mineiro e segurança. Aquele discutindo e gesticulando. Este respondendo que “outro dia mesmo, um diretor de cinema foi barrado durante a exibição do próprio filme, pois tinha chegado minutos depois da hora marcada”.

Alguns poucos minutos depois, a diretora do filme, que ficara sabendo do ocorrido, manda liberar a entrada para os que quisessem – havia cadeiras vazias sobrando lá dentro do cinema, ora! Várias pessoas entraram, pela porta da frente, com ar de – Venci!, quando se viravam para o segurança.

A esposa do mineiro dormiu nos primeiros 2 minutos após terem se sentado no escurinho do cinema. Acontece que o filme era um tanto experimental, abusava de cenas escatológicas e tinha uma história meio sem pé nem cabeça, sombria, soturna.

O mineiro e sua filha, enojados, acordaram a esposa-mãe e, dito isso, não demoraram nem 10 minutos lá dentro. Ao saírem, dão de frente com o segurança, que os olhava torcendo o nariz e resmungando por dentro.

Um filme, muitas risadas, uma carranca. E mais uma história pra contar.

(A 15ª Mostra de Cinema de Tiradentes foi um sucesso, com muitos filmes – longas, curtas, de ficção e documentários – produzidos no Brasil de excelente qualidade. O mineiro já foi em quase todas as edições, voltará ano que vem, e recomenda o passeio!)

Ana.

(Texto e fotos: Ana Letícia.)

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Ser mineiro: eis a questão…

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Dizem que mineiro é desconfiado, religioso, conservador, simples, prudente… No entanto, a sublime e subestimada arte de ser mineiro sobrevive em todos nós, em maior grau em alguns, e mais à flor da pele em outros. Mas não tem como negar: mesmo sem ter nascido nesse cantinho de terra sem mar, mesmo sendo capixaba, paulista, baiano, etc., um pouco de mineiridade subsiste em todos, pois ser mineiro é mais do que um local de nascimento, é uma maneira de encarar a vida, é saber valorizar as tradições, os costumes, a família, é conseguir perceber a beleza nas coisas simples do dia a dia, é encontrar felicidade no singelo ato de admirar uma flor e um pôr do sol inesquecível…

Para saber qual o seu grau de mineirismo, siga fazendo o teste abaixo. Conte um ponto para cada resposta positiva, some tudo e veja o quão mineiro todos nós podemos ser.

Você…

1) … se diverte a valer na praia, mas não troca um amanhecer com friozinho de montanha por nada?

Os mineiros não perdem uma oportunidade de ir à praia e ficar torrando no sol para perder aquela cor branquela que virou motivo de chacota nos outros Estados agraciados com um pedacinho de areia fofa e um mar azul. No entanto, mineiros não trocam por nada um pôr do sol na montanha, com o ventinho suave do entardecer e uma noite fria – que pede um cobertor e uma lareira acesa – pois valorizam as belas paisagens e têm orgulho do cantinho de terra onde vivem!

2) … não dispensa um pão de queijo com queijo?

Dentre todos os quitutes possíveis e imagináveis, o mineiro simplesmente reverencia o pão de queijo. Mas não vale aquele pão de queijo congelado, comprado nas prateleiras do supermercado, mas sim aquele pão de queijo caseiro, escaldado e sovado à mão. Se vier acompanhado de um queijo frescal novinho e um cafezinho, não há mineiro que resista! (Será que mineiro é também guloso?)

3) … não sai de casa sem agasalho, remédio para dor de barriga, camisinha, pente, dinheiro líquido, cartão telefônico e guarda-chuva?

O que os mineiros odeiam mesmo são os imprevistos… Além de ser desconfiado de que algo pode dar muito errado, o mineiro é, acima de tudo, prevenido. Por isso, os mineiros não saem de casa sem os apetrechos capazes de salvá-los tanto de uma tempestade quanto do fim da bateria do celular, pois o pior é não ter como se virar quando o imprevisto acontece…

4) … faz da cozinha o lugar mais aconchegante da sua casa?

A cozinha do mineiro é aconchegante, tem aroma de café, pão de queijo, e bolo de fubá, e, sobretudo, tem calor humano! É o lugar escolhido pela família para se reunir, para contar “causos” e novidades. É certo que as cozinhas de hoje estão cada vez menores, mas o mineiro precisa de pouco espaço para expressar a sua mineiridade!

5) … toma banho de mangueira no quintal ou toma sol na laje ou na varanda quando faz calor?

Na falta de praia ou piscina, a laje ou a varanda são muito bem vindas para pegar aquela corzinha ou dar uma refrescada. O que o mineiro não admite é passar vontade, e, para não dizer que temos inveja dos quilômetros e quilômetros de praia do nosso extenso Brasil, nos contentamos com a laje e com a mangueira mesmo…

6) … conhece e cita ditados populares (provérbios)?

Minha avó já dizia que só quem conhece ditados populares pode ser boa pessoa. E como água mole em pedra dura, tanto bate até que fura, conseguiu me convencer disso. Mineiro que é mineiro não é santo de pau oco, além de conhecer usa e abusa dos ditados, se diverte com eles! Pois então, vamos colocar em prática a sabedoria mineira e começar a aprender logo, antes tarde do que nunca, pois a ignorância é o pior dos males!

7) … adora contar e ouvir “causos”?

Veja bem, “causos” não são piadas. Causos são eventos curiosos ou engraçados ocorridos com o namorado do amigo da sua vizinha, com a tia da avó da sua mãe, ou com o cachorro da prima da sogra da professora do jardim da infância. Sempre fica uma dúvida se os casos são invenções ou produto de uma mente fértil, mas não tem como não se divertir com eles! Não há mineiro que resista a contar causos ou a “rachar os bicos” quando se depara com um. De fato, quando dois mineiro se encontram, não vai faltar uma sessão de causos!

8) … faz junção ou abreviação de palavras? Usa expressões como “uai”, “trem”, “sô” , “bom demais da conta” ou tem uma expressão própria que todos seus amigos reconhecem? E ainda, inventa palavras? (Nesse último caso, acrescente mais um ponto).

Seja para economizar tempo ou saliva, todo mineiro adora abreviar palavras e até mesmo juntá-las. Desta mania saem pérolas do tipo: “pó pô pó?”, “peraí”, “tó”, “cê” e muitas outras versões impublicáveis. Agora, mineiro gosta mesmo é de inventar palavras, porque mineiro de verdade gosta de ter marca registrada! Basta lembrar do inventor de palavras Guimarães Rosa e até da nossa Lú (“sonhação”, lembram do texto IdiossincrasiasI???).

9) … sabe bordar e fazer biquinhos de crochê em panos de prato e toalhinhas? Se você for do sexo masculino, troque por “…você usa lenço de tecido”?

Mineiro tem carinho pelas tradições, e tem um capricho especial na hora de cuidar do seu interior. Por isso, as mulheres mineiras adoram dar aquele ar aconchegante à cozinha e aos banheiros decorando-os com toalhinhas e panos de prato bordados e enfeitados com biquinhos de crochê. Quanto aos homens, não dispensam seus lencinhos de tecido com monograma personalizado bordado, feito por suas mulheres, é claro, com muito carinho e dedicação.

10) … faz “pratinho” no fim da festa?

Mineiro não compactua com o desperdício, e também não recusa um docinho! Então, se no final da festa você não resiste a montar um pratinho com seus quitutes preferidos para saborear no dia seguinte, você é um legítimo mineiro, não tem como esconder!

Eu sou mineira, mas quem não é? Some os pontos e confira o seu resultado:

De 0 a 3 pontosPaulista, baiano, capixaba, fluminense, etc… Você, decididamente, não é mineiro! Tá fraco nessa mineiridade! Vale lembrar que é bom conhecer melhor o jeito de ser do pessoal de Minas, como já descrito lá em cima. Além de se surpreender com as belas coisas que você pode descobrir, pode acabar descobrindo mais mineiridade em você do que imaginava!

De 4 a 6 Mineirinho. Você sabe que é o bom nessa vida, mas, como todo bom mineiro, ainda está desconfiado demais para colocar em prática a sua sabedoria! Está certo que mineiro só arrisca quando tem certeza, mas nesse assunto, pode ficar tranqüilo e liberar o seu mineirismo à vontade, que você só tem a ganhar com isso.

De 7 a 9 – Você é mineiríssimo! Quase um mestre no assunto, quando se trata de mineiridade! Ser mineiro é com você mesmo

10 ou mais – Parabéns, você é mineiro da gema! Sabe curtir os pequenos prazeres da vida, pois acredita que neles se encontra a verdadeira felicidade!

Texto e Fotografia: Bela.

Mulher Mineira

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Pessoal, esta semana que passou foi atípica… Chegando do feriado, muita coisa para arrumar aqui em casa até o retorno dos meus pais, retornar os estudos pros Concursos, etc e etc. Resultado: 6ª feira faltou tempo e inspiração para postar algo de interessante para vocês (minha mente simplesmente não funcionava!).

Hoje eu recebi este texto por e-mail, da minha Tia Sheila, que achei fantástico, por isso resolvi fugir à regra de sempre escrever textos originais e resolvi compartilhar aqui para que todos pudessem ler.

O comentário da Tia Sheila:

“Olá, Ana, recebi, li, lembrei-me do blog de vocês, não de quem é, mas é interessante. Inté. Sheila”

MULHER MINEIRA

“Gostaria muito de poder encontrar palavras para poder dizer do orgulho que sinto de ser mineiro. Meus pais não poderiam me dar um presente melhor. Se existir uma outra vida, quero nascer mineiro de novo. Mas tem uma coisa melhor que eu gosto mais do que ser mineiro: é namorar as mineiras.

Mineira não usa perfume e cheira gostoso demais. O jeito irresistível que a mineira tem para conversar no portão, sem encarar nos olhos e mexendo com os botões da nossa camisa é que nos conquista. Essa sabedoria não se aprende em nenhuma universidade.

Joaquim da Mata, o Velho Quincas, filósofo dos cafundós de Minas, quando compara o jeito de ser de uma mineira com o de outra mulher, afirma que a ‘deferença’ está no preparo. O ‘caldinho’ que envolve a mineira e dá a ela este jeitinho tão gostoso foi preparado em panela de ferro num fogão à lenha.

Mineira não mente, conta lorota. Não menstrua, fica úmida. Não paquera, espia. Não fica bonita, já nasce formosa. Mineira não curte um som, ouve música. Não fala, proseia. Mineira não come estrogonofe, mas adora um picadinho de carne. Não faz crediário, compra fiado. Mineira não transa, faz amor. Não fica pelada, mostra as ‘vergonhas’. Não erra, comete engano. Mineira não chupa cana, toma garapa na beira do engenho. Não liga pra ninguém, mas telefona pra todo mundo. Mineira não trai marido, escorrega na rua.

Mineira ama diferente. Flerta de longe, promete com o olhar e cumpre tudo o que não precisou esclarecer com palavras. Ela sabe que amor não é para discursar, é pra fazer. Ama com os olhos, com as mãos, com o sorriso, com os gestos. Mineira ama com o corpo inteiro e com toda a sofreguidão da alma.

Conheci muitos tipos de brasileiras. Faceiras, trigueiras, formosas, irresistíveis, loiras, morenas, mulatas, cafuzas, todas bonitas, mas só as mineiras têm essa brejeirice, essa paciência de construir sem pressa uma teia de aconchegos e mimos e lembranças e sorrisos, que nós das Gerais tanto apreciamos.

Existem coisas que já nascem com a mulher e muitas destas coisas estão diretamente ligadas ao lugar. Mineira faz doce como ninguém neste país. Quem já provou doce de cidra ou de leite feito por mineira, sabe o que é bom. Goiabada e marmelada, nem se fala. Queijo então é até pecado comparar.

Mineira estuda menos e ensina mais porque o que há de melhor ela já nasceu sabendo. Isso se deve à simplicidade das mineiras que se embelezam com bijuterias e ofuscam o brilho de jóias raras. Mineira se veste de chita e fica bonita, porque mineira não segue, mas faz moda. Mineira não usa tênis, enfeita as alpercatas. Mineira vai à igreja, assiste missa, comunga, mas por via das dúvidas toma um passe de candomblé e joga rosas vermelhas pra Iemanjá. Assim descobre caminhos que levam à Deus.

Também faz política, porque sempre sabe distinguir o certo do errado. Escondida por trás da simplicidade de toda mineira está uma guerreira pronta pra lutar pelo Brasil.

Dizem mesmo nas Gerais que é a mulher quem ensina o homem a ficar rico. Mineira não é feminista: é feminina. Pra que lutar contra os homens, se todo o poder está mesmo em suas mãos? Mulher, quando casa com homem rico, vira madame. Mineira vira esposa.”

Espero que tenham gostado tanto quanto eu… Realmente, tudo a ver com o nosso blog!

Ana Letícia.