e às vezes amar é pouco
é muito pouco
(ou é o suficiente?)
mas quando só amar é pouco
(muito pouco)
não existem mais palavras
tão indefiníveis
ou tão definidas
tentadas
usadas
sofridas
Amor.
Ana.
Ana.
Vou parar de fingir que não quero falar com você todos os dias e parar de fazer o tipo “ocupada todo o tempo”. Não mais fingirei que não fico todos os dias te esperando dar um sinal de vida, tomar mais uma pílula que seja de sua atenção.
Não vou mais fingir que não me decepciono, que toda a minha agressividade, ironia e sarcasmo não são em decorrência de faltas e atitudes.
Não falarei mais com você sobre coisas não corriqueiras, mas sobre como foi o meu dia, perguntarei como foi o seu, admitirei que faço planos, sonho, penso e programo um monte de coisas, erro, grito, xingo, faço xixi e tremo choro quando estou com raiva.
Vou parar de fingir que não me lembro do seu toque, da sua voz. Vou parar de fingir que não me apaixonei por você.
Quero ouvir todas as suas letras, não só as entrelinhas. Quero parar de decifrar símbolos, palavras, reações. Quero simplesmente ouvir que me quer e nada mais. Simples assim.
Vou te falar uma só coisa: esta não é só mais uma historinha de amor, dessas que a gente menciona pros amigos, filhos e netos, um caso, uma aventura, algo que morreu por aí.
Vou parar de enrolar e dizer de uma só vez: eu quero que seja arrebatador.
Ana.
Na fazenda do meu bisavô (foto acima), empregado não entrava dentro da “casa grande”, nem sequer subia a escadaria da varanda, que dava na entrada da casa. A comida deles nem era ali servida, quando muito, colocavam-na em marmitas ou pratos de metal lá embaixo, no primeiro degrau, o mais perto do chão possível.
Minha mãe e tia não podiam sequer aparecer ou brincar na varanda, pois “os homens” poderiam vê-las. E as ditas empregadas domésticas, da cozinha pra dentro da casa, não podiam passar. Eram proibidas até mesmo de levar os comes e bebes à mesa, onde a família se sentava e aguardava o almoço. Arrumar os quartos, então, fora de cogitação! Se assim o fizessem, sei lá, deviam ser até penalizadas com chibatadas, como se escravas ainda fossem… (Quem arrumava a casa, limpava o chão, colocava à mesa? Minha mãe e sua irmã, minha tia, oras!)
Imaginem então o quão próximo de nós está esta realidade discriminatória… De uma certa forma, é até fácil entender como o pensamento “racial” e “preconceituoso” se desenvolveu e foi incutido nas cabeças de grande parte dos brasileiros… Afinal de contas, Casa Grande e Senzala fomos, e em alguns confins do Brasil, ainda somos até hoje, infelizmente! Os da “alta sociedade” atual, que são da idade de nossos pais ou mais velhos, vivenciaram essa realidade muito de perto, quando crianças ainda, e para eles esse comportamento sempre foi passado como algo certo, natural, normal…
Por isso penso que ser muito difícil mudar isso de cima pra baixo… Educação começa do berço! As crianças é que devem ser bem EDUCADAS, humanamente falando, não só nas escolas, mas em suas casas por suas famílias também… Princípios, moral, caráter, respeito, igualdade, humildade, fraternidade, e amor ao próximo.
Fica chato bater na mesma tecla…
Mas falta AMOR no mundo.
Ana.
Do outro lado da rua, um pomar de águas-vivas sobrevive à sequidão sentimental, que atualmente cisma em jogar dardos com seu parceiro noturno, animador de festas, passatempo de andarilhos e agente inebriante de algumas mentes que se esqueceram de um dia brilhar. E, ao cruzar contigo, me deixo invadir pela onda de seus fartos cabelos. Submersa em meias palavras, curo a ressaca do dia que se tornou noite, após longos caminhos de fumaça vermelha e vapor de poeira estelar. Ignoro o veneno que me queima a pele, causado por viva água, bela e suculenta, fingindo gostar de sofrer, de rolar em chão de espinhos gelatinosos.
Uma missão cumprida na sujeira azul de um planeta chamado Eu, varrendo pensamentos e espantando carniceiros. Roubam a vida das águas, lhes retiram o sal. Sem suor, sem lágrimas, corro a seu encalço, lhe prendo as vestes sob postes e luares e tasco um belo de um beijo que nunca se esquecerá.
O mundo some e o dia acaba, esquecemos de tudo e falamos de um nada tão distante que nem sabemos da dor que se fez riso. Do branco do seu dente cariado ou do redemoinho que restou de meus trapos.
Ana.
Na dúvida é não facilitar…
Na dúvida é amar ao próximo como ama a ti mesmo.
Prestem atenção: como ama a ti mesmo.
Há um tom de egoísmo na pregação de Inácio de Loyola (e na doutrina Jesuíta)?
Já ouvi muita gente falar muita besteira sobre isso. Sempre discordei veementemente.
Egoísmo é importar-se com o seu vizinho só porque ele é pobrezinho e não pode ficar doente, pra não transmitir doença pra você!
Mas amar a si próprio é fundamental para que possamos amar o outro. Só assim conseguimos olhar o que tem lá fora: quando a gente se volta para dentro e percebe o quão frágeis todos nós somos. E é aí que enxergamos a única certeza que podemos ter em vida – a morte! E assim, todos somos iguais, vulneráveis, egoístas, incapazes de dizer “eu te amo” com amor verdadeiro, na hora que dá vontade. Pensamos em ações e reações, pesamos riscos, fazemos seguro de vida, carro, imóvel…
E assim, fazemos mal.
E assim, faz mal aquele que despeja lixo nos rios, polui o ar, faz mal não respeitar o direito do próximo, faz mal não amar, não se colocar no lugar do outro.
Menos preconceito.
Mais amor
Sorrisos
Aplausos
Cores.
VIDA.
(Clique para ouvir)
Ana.