É… Mas está ruim pra todo mundo. Esses dias mesmo, o Pacheco virou para mim e falou:
– Mermão, me arruma 2 mangos aí preu pegar o busú, pois a situação aqui está periclitante. Emprestei um dinheiro aí pro Maneco, que ficou de me pagar hoje… Rá! Adivinha?
– Puts… Aê, toma aqui então teus 2 mangos. Mas olha, vou ter que te cobrar amanhã, senão vai fazer falta pra mim também, sacolé?
– Pó deixáááá maluco. Eu não sou o Maneco não… Aquele caloteiro…
– Hum… Aê Pacheco, e a minha irmã que pegou dengue?
– Nuoooossa… nem me fale Tão… Meu sobrinho tá de Dengue também, internado lá no corredor do Posto de Saúde do bairro porque nos hospitais não têm mais vaga.
– Pôôô… Estimo melhoras, cara.
…
E por falar em dengue… E minha mulé rapá, tá é com dengo! Outro dia deu pra querer me negar fogo, a danadinha. Tem mais de semana já que estou na seca. Ela tá é fazendo charme, porque eu não consegui tirar férias do serviço, que nem tinha prometido a ela. Dá pra acreditar?
– Aff. O pior é que dá, viu Tão. Mas lá em casa eu não deixo barato isso não. Não agüento essas manhas de mulher. Não passo falta não, sabe como? Ou eu pego à força, ou então… bem, já sabe né? Quem não dá assistência…
– É… pois é… Abre espaço pra concorrência né… hehehe E por falar nela… Tô pensando até em aceitar a proposta daquela secretária lá da firma, viu. A mulher tá dando de cima meeeesmo, maluco! Tu precisa ver. Um dia aí me deu um bombom. Até então tudo bem. No outro me levou um CD. E fica dando umas piscadinhas, sácomé?
– Sóóó… hehehehehe
– Pois é. Ontem mesmo ela foi trabalhar de saia, Pachecão, de saia. Passou rebolativa pela minha mesa uma, duas, três vezes, indo e voltando. Da quarta vez, parou na minha frente, sentou-se no tampo da mesa e ficou puxando assunto. Disse, que comprou a saia na loja tal, se eu tinha gostado, e blábláblá, que queria ir ver o filme tal…. Cineminha… Pff. Até parece que se eu sair com aquela mulher eu levo ela pro cinema! Vou levar é pra outro lugar, isso sim!
– uahahahaha! Tá esperando o quê, cumpadi? Se fosse eu já tinha mandado ver legal… Tá dando bobeira…
– Tô é esperando a grana entrar, pô! Num tá sobrando nem pro cafezinho… O carro tá na oficina e lá vai ficar. O conserto ficou caro e não tenho como pagar o mecânico. A patroa não sai da minha cola, mas também não libera nem a tarraqueta, e eu tô cheio de conta pra pagar… Tá fácil não… Vou sair com a mulher como, de ônibus? Lanchar no cachorro quente da esquina? Tenho dinheiro para pagar motel não, rapá…
– É… tá fácil não…
– Mas… fazer o quê, né?
– Fazer o quê… Viver, né, cumpadi?
– É… Sobreviver…
– Demorô…
– Já é…
Ana.