Assim que chegou da aula, Amanda encontrou a mesa pronta para o almoço, pois Maria, a empregada, já sabe a hora em que a garota chega da escola e que os patrões nunca almoçam em casa por causa do trabalho.
Mas Amanda não reclama do almoço solitário. Isso lhe permite simplesmente “fingir” ter almoçado. A adolescente tem apenas trezes anos, mas já se preocupa com a boa forma, e pretende emagrecer bastante para ficar parecida com as modelos magras e elegantes das revistas de moda.
Como todas as tardes, depois do almoço, Amanda ligou a televisão e deitou no sofá, onde acabou adormecendo, num sono tranqüilo e despreocupado.
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O rapaz tem vinte anos e estudou apenas até a quarta série, e até hoje não conseguiu se estabelecer em nenhuma atividade fixa que lhe permita ganhar algum dinheiro para ajudar a família, por isso passa o dia em andanças pela cidade, vigiando carros, procurando comida e pedindo esmolas na porta de bares e restaurante.
Essa é a vida que Weder vem levando desde que deixou a escola, até o dia de hoje, quinta-feira, quando teve seu nome citado nas páginas policiais.
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-“Maria, o que aconteceu? Você queimou alguma coisa?”
-“Uai, não, menina! Mas tô sentindo cheiro de queimado mesmo! O que será?”
Amanda olhou pela janela e viu uma fumacinha escura saindo da casa ao lado. Gritou, mas ninguém respondeu. Preocupada, resolveu sair e tocar a campainha da casa para avisar que algo estava queimando lá dentro.
Chegou na porta da casa, tocou a campainha, e nada. Foi quando percebeu que a porta estava arrombada, praticamente quebrada, e o cheiro de queimado persistia, quase que insuportável àquela altura.
Abriu a porta devagarinho e foi entrando na casa, até chegar à cozinha, de onde vinham o cheiro e a fumaça.
Acordou com a violenta sacudida do policial, foi algemado e levado para a sede do 1º Batalhão.
Weder chorou em silêncio, e enquanto observava o monte de carvão no qual se transformaram os apetitosos pães de queijo, confessou ter usado maconha pouco antes de arromabar a casa e tentou justificar seu crime reclamando que as pessoas lhe negam um prato de comida:
– “os boyzinhos que passam pela rua só me oferecem maconha. Quando passo perto de um bar, as pessoas pagam cachaça para mim, mas comida mesmo ninguém dá”.
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Weder foi solto na noite daquela mesma quinta-feira, mas “o dorminhoco”, como passou a ser conhecido pelos ouvintes da Rádio Patrulha, foi preso novamente quatro dias depois, após invadir um restaurante fechado e surrupiar quinze filés e algumas caixas de lasanha.
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Já a história de Weder é real, e você pode trombar hoje mesmo com “o dorminhoco” nas ruas de Belo Horizonte. E também sei da existência de vários como ele por aí.