Sabe, eu não estou imune às palavras. Elas são como agulhas perfurando retinas que não se cansam de ler, nem assim, cegas. As palavras me dizem tanto ou não dizem nada, fico tonta, com a febre de não saber o que fazer.
Sabe, não estou imune ao olhar nos olhos. São como faróis luminescentes, ora reluzem o entorno, ora roubam a luz do que está por perto. Os olhos me encaram, brilhantes, depois correm tímidos para bem longe. Me desafiam a correr atrás, mas o que faço é igualmente me esconder.
Existe um raio-x de palavras? Quero ver o que trazem por dentro do esqueleto de entrelinhas, mergulhar no preto e branco de sua tinta e papel.
Existe vacina para o olhar nos olhos? Quem sabe, os olhos imunizados não se escondem e se deixam escorrer para o oceano de seus olhos de mel.
E então prometo não jogar o seu jogo de meias palavras ou palavras inteiras pela metade.
E então prometo esquecer a imunidade
E não fugir.
Ana.
(Texto e foto: Ana Letícia)
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