Cartas achadas

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Entro em casa e parece não haver ninguém. Somente um espectro daquilo que era antes de irmos embora. Alguns cheiros, agora vazios, faziam imagens vivas de quem se fora.

Arrumo e desarrumo as malas, as roupas, meio sem saber por onde começar. Alguns papéis espalhados pela mesa, contas pagas, notas fiscais, cupons velhos que descontavam alguns centavos de compras que jamais seriam feitas.

Livros – ah, sempre eles! – fora da estante. Pelo menos uns três andaram passeando por outras bandas. Folheados, marcados, e agora, esquecidos. Minha caneta preta repousava em cima do jogo americano da mesa de jantar. Ensaiara notas musicais e outros desenhos num bloco mais ao lado. E pra lá deste, folhas soltas com sua letra me encararam.

Peguei as palavras, de supetão, coração disparado e as folhas nas mãos, estaria ele aqui ainda? Me senti estranha ao ler palavras escritas que não eram pra mim. Mas não eram pra ninguém, a não ser pra ele mesmo, o escritor que aqui sentava, antes de irmos embora.

Pareciam cartas jogadas, achadas, marcadas, um diário solto, que não tinha continuidade, mas que contava emoções e sentimentos, sonhos das noites anteriores, nada mais.

Mas este nada é muito mais que um simples nada. E somente eu seria capaz de entender as palavras, a começar pela letra, que pareço conhecer desde sempre. Somente eu saberia que, quando ele escreve, é porque está bem.

Então meu coração se acalma, e outras lembranças chegam. Lembranças de um tempo em que eu mesma escrevia e esperava cartas chegarem pelo correio.

E elas demoravam, mas chegavam. E eram pra mim.

Ana.

(Texto e foto: Ana Letícia.)

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  1. Dias atrás recebi um leve montinho de cartões-postais. E fiquei parecendo criança com um novo brinquedo. É que desde que conheci o Paulo, em 2004, compartilhamos algumas coisas. Ele me leva para os lugares que ele vai em cartões-postais e eu i faço ouvir todas as músicas da minha vida. E embora a internet facilite muito isso com as fotos digitais, ainda aparecemos para o outro pelo correio. Também toda vez que estou em algum show uma das músicas ele escuta pelo celular, não importa onde estejamos. E sabe, esse tipo de coisa parece que faz a gente mais real do que é. Eu sinto falta das cartas, embora adore a rapidez dos emails e das mídias sociais. E por sentir falta dessas coisas é que o Paulo ainda chega aqui em casa em cenários lindos de algum cartão-postal e eu chegue em algumas faixas boas de saudades em alguns cds.

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      • Tenho um pseudobaú aqui em casa onde guardo todas as minhas cartas. E elas são muitas. E com uma organização quase psicótica: pastas por pessoa, e depois, em ordem cronológica.
        Sinto saudade delas chegando em casa…

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