Cimento cozido

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Solzinho

O silêncio cega, mutila minhas mãos.
Aleijada, sigo no pasto: comer, dormir, acordar, trabalhar.
O ritmo da cidade engole e cospe sangue e fezes
No mesmo prato
Digere ratos, tritura fracos.
Oprimida, sigo por entre os que oprimo
Odiada pelos que odeio
Destemida, despudorada.
No mundo que não é de marshmellow
O chão fofo cede lugar ao cimento duro e cozido
Não há nuvens suficientes
O calor derreteu
Não há ácido suficiente
A pele descamou, o cérebro dissolveu
E o menino atravessa a rua de mãos dadas com o acaso
Desnudo, desnutrido, desavisado.

Ana.

(Texto e foto: Ana Letícia.)
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Sobre Ana Letícia

@analeticia Autora do blog Mineiras, uai! desde 2004, nasceu em Belo Horizonte-MG. É advogada e sagitariana. Gosta de poesia, literatura, fotografia música boa e dança clássica, contemporânea, de salão, etc. Já quis ser bailarina, como toda menina, e até hoje fica nas pontas dos pés. Participou do Projeto Macabéa com outros escritores blogueiros do Brasil, e foi uma das editoras do Castelo do Poeta, junto com seu primo, o saudoso poeta João Lenjob.

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