Dizem que a palavra “saudade” só existe na nossa língua. Sabemos, no entanto, que sentir saudades não é privilégio nosso. Outras línguas, outros artistas, outros poetas, também descobriram uma forma de expressar saudade. Mas “saudade”, palavra genuinamente portuguesa, não encontra tradução em língua alguma!
Mas, enfim, o que tem de tão especial e sui generis a palavra saudade? Será que já tentamos traduzir para nós mesmos o sentido desta palavra?
Primeiro, saudade não é única e simplesmente uma palavra. Não podemos ser simplistas a ponto de reduzir tudo o que há de belo na saudade a uma palavra constante do dicionário…Traduzir um sentimento por uma palavra sempre foi o maior dos desafios do homem sensível: transformar sentimentos em coisas palpáveis, visíveis, compreensíveis. Este é o incomensurável presente que a racionalidade nos oferece.
Saudade não pode ser apenas uma palavra, pois palavras são imperfeitas, palavras são humanas demais para demonstrar todos os sentimentos que se escondem por trás delas.
Saudade é o sentimento reconfortante de chegar a um lugar conhecido após dias de busca desenfreada pelos caminhos da solidão. Saudade é o lar daquele que se encontra perdido, é o fio de esperança que nos conduz nos confins da memória, e nos permite saborear, intactos, momentos repletos de felicidade.
No entanto, a saudade nunca deve ser confundida com tristeza ou melancolia. A saudade é o maior trunfo que um ser humano pode carregar em si, pois é a manifestação mais profunda da consciência diante da inexorabilidade do tempo, da vivência que se completa quando germina uma lembrança, do caminho percorrido no árduo trajeto da vida. É o sentimento que nos traz a certeza de termos sido felizes um dia, mesmo que esse dia tenha passado. Quem tem saudade pode dizer: vivi – ou melhor, estou vivo! Sentir saudades não é ficar preso ao passado, mas poder dizer, sem hesitar, que viver vale a pena.
Saudade é a faculdade de trazer para o presente os sentimentos do passado, as alegrias de um dia perdido no tempo, é um privilégio que só podem gozar aqueles dotados de alma sensível, capazes de ver a beleza da vida em pequenas coisas.
A saudade é a arte de perceber o valor das minúsculas porções de felicidade esparsas pelo tempo, que assim como o impiedoso e violento vento, destrói tudo com sua passagem, e, como que por crueldade, nos deixa incólumes para observar as ruínas de tudo que se foi…
Bela